Padre Leonel Franca sobre Jackson de Figueiredo  

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FRANCA, Leonel. Jackson de Figueiredo. In FIGUEIREDO, Jackson de. In Memoriam. Rio de Janeiro Centro Dom Vital, 1929. p. 336-338.


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Jackson, por Hamilton Nogueira  

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Jackson

Hamilton Nogueira


Vinte oito anos são passados, e não nos sai da memória aquele dia trágico em que, arrebatado pelas ondas, deixou um vazio entre os seus entes mais queridos – sua família e seus amigos. Morreu aos trinta e sete anos de idade, deixando uma obra inacabada. Moço ainda, era nosso orientador, e continua a ser, agora, quando, pela idade, poderia ser nosso filho.

Não conheço na história do pensamento brasileiro ninguém que aos vinte anos de idade, tivesse uma visão tão nítida do problema religioso do nosso tempo.

Uma análise da obra de Jackson de Figueiredo deverá ser feita no plano da realidade brasileira da época em que viveu, quando o indiferentismo religioso, a tibieza dos católicos, a indistinção dos valores espirituais, a “extralimitação das coisas”, eram os sinais visíveis de uma sociedade que perdera o sentido de um cristianismo de todas as concessões feitas pelo liberalismo religioso, mostrar que o catolicismo é essencialmente vida, testemunho, foram os objetivos de sua ação como jornalista e escritor.

 A sua fé como a de Dostoievski passou pelo “cadinho de todas as dúvidas”, e nas suas obras principais “Reflexões sobre a Filosofia de Farias Brito” e “Pascal e a Inquietação Moderna”, podemos acompanhar o seu drama dialético entre o humano e divino.

Não é uma dialética fria, no sentido do racionalismo hegeliano, é uma dialética existencial, profunda e dolorosamente vivida, em que a luz e as trevas se alternam, em que as dúvidas, as angústias e inquietações se mesclam com a esperança do conhecimento da verdade. O seu livro sobre Pascal resume a sua própria vida. No solitário de Port Royal encontrou um irmão mais velho que passava pelas inquietações e atingiu a plenitude da fé. “O que me proponho a demonstrar é, justamente, que, mais uma vez, a dúvida encaminhou para a fé. Pascal e a sua angústia são o elemento que mais vivamente agita a consciência contemporânea, sendo causa de primeira ordem não só da reação espiritualista que vai estrangulando o materialismo moderno, mas também da já notada renascença, senão católica de um a outro extremo, pelo menos, cristã, entre as camadas intelectuais superiores em todo Ocidente.” Jackson não conheceu Kierkegaard. Se o tivesse conhecido, teria sido no Brasil, um dos seus grandes interpretadores, tão profundas são as suas afinidades de ordem espiritual. A sua atitude em face do absoluto era idêntica à do filósofo dinarmaquês, atitude de “temor e tremor”. Para ele como para Kierkeggard o amor é o laço que une o temporal ao eterno. Jackson admitiria o “salto no absurdo” como admitiu a “aposta” de Pascal. E, certo, teria dado a leitores apressados da obra de Kierkeggard. Digo sempre que, quem não o conheceu, foi roubado na vida, tão rica era a sua alma, tão grande a sua generosidade, a sua assistência, então nobres as suas atitudes nesses momentos em que uma tomada de posição é exigida, não importando o risco a que se submete quem quer que tenha assumido compromisso. E porque assim procedeu, deixou discípulos e continuadores da sua obra. “A Ordem” e o “Centro Dom Vital”, suas criações, continuam o movimento que iniciou, movimento de compreensão, de apelo aos que estão nas fronteiras da verdade.

Numa carta a Leon loy dizia Pierree Termiér: “La glorie de La chrité est devenir”. Jackson possuía esse dom divino. Daí o seu segredo de pescador de almas, a força do seu apostolado.


NOGUEIRA, Hamilton. Jackson.  A Ordem, Rio de Janeiro, v. 56, n. 5, p. 286-287, nov. 1956.

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Ode a Jackson de Figueiredo  

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Ode a Jackson de Figueiredo
Jackson de FIgueiredo - revista A Ordem, vol. LVI, n. 5, 1956




ODE A JACKSON DE FIGUEIREDO

Carlos Drummond de Andrade*
Belo Horizonte, 1929
Jackson
nem amigo nem inimigo,
nem mesmo (o que seria cômodo) espectador displicente na sua [poltrona

espiando teus gestos, tuas palavras e obras,
mas distante, extraordinariamente distante daquilo que foi a tua vida,
mais distante ainda dos mundos que explorastes, viajante inquieto, sem tempo para esgotá-los, e só te conhecendo bem depois que abriste os braços para morrer,
aqui estou, testemunha depondo.

Jackson,
os que te conheceram e te amaram
os que te conheceram e não te amaram
os que não tiveram tempo de te amar,
os que não cruzaram no teu destino, os que ignoram o teu nome, os que jamais saberão que exististes, estão todos um pouco mais pobres do que eram antes.

Uns perderam o amigo.
Outros , o inimigo, o grande e belo inimigo que orgulha.
Outros nada perderam, e é tão triste, tão doloroso não perder nada.
Como estes, eu me sinto pobre da pobreza de não ter sido dos teus Jackson,
e eu sinto verdadeiramente por todos aqueles que jamais suspeitarão disso.

Voltou o tempo dos prodígios.
Ainda há pescas maravilhosas, eu sei.
E os peixes que arrebatastes a um mar mais crespo que o de Tiberíades

Estão cantando a glória do Senhor.
Milhares de escamas, milhares de dorsos, de luzes, de almas
elevam um cântico tão puro que a terra se mistura com o céu
e nem se percebe o pescador que as ondas arrebatam,
que as ondas arrebatam violentamente, para depois se apaziguar, enquanto o corpo mergulha e os peixes cantam a glória do Senhor.

Agora sentimos que estás mais perto de nós,
Que por obscuros caminhos nós chegamos mais a ti,
(pouco importam as ondas e esta camada de terra que nos separa de tuas espécies em decomposição).

Muitas coisas nos ensinou a tua morte, que a tua boca não soubera exprimir e a tua pesca mais opulenta, Jackson, foi a de ti mesmo pelo oceano pesca terrível e prodigiosa de amor e redenção.

ANDRADE, Carlos Drummond de.  Ode a Jackson de Figueiredo.  A Ordem, Rio de Janeiro, v. 9, n.4, p. 150-151, dez. 1929.


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Atualidade de Jackson de Figueiredo  

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Atualidade de Jackson de Figueiredo

Hamilton Nogueira*


Há trinta anos, no dia 4 de novembro, falecia tragicamente Jackson de Figueiredo. Lembro-me ainda das palavras de D. Sebastião Leme ao tomar conhecimento da morte do seu grande amigo: “foi um herói cristão”.

Sim, Jackson de Figueiredo foi um herói cristão. Foi um herói ma sua árdua luta contra o farisaísmo católico, na sua renúncia ao conforto, na sua dedicação à causa que abraçou com entusiasmo – a recristianização da inteligência brasileira.

Para a realização do seu objetivo fundou esta revista [A Ordem] , em 1921, e no ano seguinte o Centro D. Vital.

Autodidata, escreveu aos vinte anos as suas “Reflexões sobre a Filosofia de Farias Brito”, obra única no Brasil pelo vigor de expressão e pela audácia do pensamento.
A importância desse livro de Jackson de Figueiredo foi assinalada na época em que foi publicado por Nestor Victor. O ilustre crítico paranaense pressentiu na confissão espiritualista do jovem escrito, o cristão autêntico que iria mais tarde iniciar no Brasil a renovação do pensamento católico.

Uma leitura meditada das obras de Jackson de Figueiredo mostra-nos a identidade das suas idéias com as idéias das correntes filosóficas mais atuais nesta hora incerta e amarga que o mundo atravessa.

Jackson foi, sem saber um dos precursores, no Brasil, da filosofia existencial. Não tendo conhecido Kierkegaard, a sua obra, no entanto, está no plano kierkegaardiano. Nela, sobretudo nas “Reflexões sobre Filosofia de Farias Brito” e em “Pascal e a Inquietação Moderna” verifica-se que o pensamento da vida é dominado pelo primado da vida realmente vivida.

No seu diário íntimo encontra-se esta expressão: “a vida é mais forte que a mais forte das filosofias”.

Daí, a atração que sentiu por Pascal, em cuja angústia ele via um símbolo do mundo moderno. Pascal e Farias Brito libertaram o pensamento do jovem sergipano da influência de Nietzsche, e mais tarde o seu encontro com o tomismo foi uma nova fonte de renascimento espiritual. Entretanto, o que mais o seduzia no Doutor Angélico era a nota de humana ternura que ressalta a cada momento na “Suma Teológica". Dos comentadores modernos de São Tomás o Padre Pierre Rosselot era o mais apreciado por ele. “O intelectualismo de S. Tomás“, do jovem jesuíta morto na guerra de 1914, era lido e relido por ele. Não se cansava de ler para os seus companheiros do Centro D. Vital esta página de Rousselot: “Le XVII e. siécle, qui n’a guère compris La metaphysique thomiste, apréciait davantage lês parties Morales de a Somme. Mais qui fera sentir à nos contemporains ce gout de ardent, cette tendresse grave, forte, presque infinie pour l’humanité, qui s’exhale de toutes lês pages Du Docteur angélique? Qui leur fera sentir que sous lês formues limpides, nettes concises, pleines de sens, palpite de um enthousiasme passioné pour ce qu’un autre penseur catholique appelait “La splendide nature humaine?” palpiter, c’est terme qui signifiat, de tensité extreme de l’amour sans rien suggérer d’inquiet, de qui eb voile La vivacitpe aux yeux i nattentifs. Onde se plaint quelquefois de be pás retrouver dans lês questions Morales de La Somme se qu’on pourrait appeles l’odeur humain de l’Ethique à Nicomaque. Auprès d’Aristote si concret, si vécu, realiste, l’on este tente de juger Saint Thomas pâle et abstrait. Mais à mesure qu’on se familiarise, L’on sent cette impression s’évanouir. Lês expressions lês plus courantes (bonun conversationis humanae, pax multitudines, recta civium ordinatio) s’illuminent dans Lensemble de La pensée thomiste, et ouvrent dês perpectives inteligibles infinies.”

No plano religioso Jackson de Figueiredo foi essencialmente um homem de ação, um soldado de Cristo. Repugnava-lhe o indiferentismo religioso, o catolicismo amorfo e sem vida. Daí seu entusiasmo por D. EME e por D. Vital. “Coluna de Fogo” e “Afirmações” expressam o seu horror à confusão ou a “extralimitação das coisas no mundo moral”, como costumava dizer. Havia necessidade de distinções e de definições. Como kierkegaard era uma “espécie de policial da eternidade.” O catolicismo, para ele é vida, e testemunho. Não suportava qualquer espécie de hipocrisia. Para ele, maior valor tinha um positivista convicto e sincero do que um católico fazendo concessões ao erro. Deixou-nos há trinta anos, em plena mocidade. Parece que foi ontem. Os seus olhos claros, que deixavam transparecer a luminosidade da sua grande alma, continuam a contemplar-nos.

A obra que iniciou foi continuada pelos seus amigos. A sua memória perdura em quantos o conheceram e amavam. As suas idéias e o seu exemplo fizeram crescer o rebanho do Senhor.


*NOGUEIRA, Hamilton. Atualidade de Jackson de Figueiredo. A Ordem, Rio de Janeiro, v. 60, n. 5, p. 337-339, nov. 1958.


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Jackson, humanista integral  

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Por Silvio Elia*

Quando das comemorações na primeira década da morte do grande brasileiro fui honrado com um convite para participar do número desta revista [A Ordem] ao mesmo dedicado, e não pude imediatamente aceder.

As minhas dificuldades não eram de tempo, nem de inspiração, mas de preparo.

Foi a doze anos atrás que me surgiu aos olhos, pela primeira vez, o nome de Jackson de Figueiredo. Cursava eu o ginásio e já me ia afeiçoando com os nomes de nossos mais notáveis homens de letras, pois entremeava o estudo nos compêndios com leitura de jornais e revistas. Conhecia-os, portanto, através das crônicas de imprensa.

Lembro-me perfeitamente a surpresa que me causou a notícia da morte de um Jackson. É que o jornal a dera com grandes louvores à inteligência e à personalidade do morto. Tive então a impressão – mais tarde confirmada - que se tratava de um vulto singular, e admirei-me bastante de nunca lhe haver lido o nome em qualquer outro periódico.

Todavia, Jackson durante ainda algum tempo continuou a ser para mim um desconhecido. Só quando vim a me sentir atraído pelos escritos de Tristão de Atayde, então em plena campanha de combate ao mofado cientismo de tantos soi-disant valores da nossa intelectualidade, é que reencontrei o seu nome. Percebi que ele era agitado como a bandeira de luta e conseguia reunir em torno a si temperamentos os mais diversos.

Nessa época, iniciando o curso jurídico, eu me sentia revoltado contra o ambiente bolchevizado da nossa Faculdade, em que professores panfletários inoculavam vírus dissolventes nas inteligências jovens que acorriam a suas aulas. Em nome da libertação do proletariado, negava-se Deus (que atualmente os comunistas se apressam em “respeitar”...), solopavam-se as bases da família, favorecia-se a libertação dos piores instintos. E não havia quem se levantasse contra tamanha dissolução que Tristão de Atayde, cujo livros se sucediam demolidores e restauradores.

Foi nessa ocasião que li alguns livros de Jackson. Confesso que muito pouco me interessou. Não que desconhecesse valor, mas neles não encontrei elementos com que satisfizesse a minha vontade de acertar com idéias definitivas e rechaçar as idolatrias demoníacas do marxismo internacional, ou nacional. Era cedo demais para eu compreender a posição do bravo sergipano.

Hoje se passaram alguns anos. Nesse breve espaço de tempo as condições do mundo se transformaram profundamente. O fascismo tornou-se de “defensor” em perseguidor da Igreja. O comunismo político procura uma aliança com as democracias e volta a incensar a lírica liberdade dos tempos burgueses. E as chamadas grandes democracias aproveitam-se dos erros crassos dos totalitarismos, para identificar a sua causa com a da cultura e, por isso, tentaram uma recomposição, bastante suspeita, com a Igreja.

Pois bem: no mundo novo de hoje, tão diferente do de há três anos, a personalidade de Jackson se vinca com o mesmo fulgor e a mesma atração dos tempos em que vivia entre os homens.

É esse admirável fenômeno que hoje se vai explicando. Jackson foi, essencialmente um anti-burguês. Foi um perturbador realmente, um homem que veio falar à avestruz da tempestade, exatamente quando o satisfeito animal melhor se julgava protegido pela asa...

Ora, o burguês é apenas um aspecto desprezível da natureza humana que triunfou num dado momento histórico. Ele, porém, está sempre ao nosso lado, chamando-nos, enleando-nos, convencendo-nos. Não podemos, nem devemos ceder um momento sequer. Para isso é preciso reagir sempre, reagir com violência, com âmago da nossa personalidade. Porque o burguês é o homem epidérmico, das ilusões fáceis e dos prazeres grosseiros.

Daí a luta de Jackson consigo mesmo, com o “seu” burguês. Daí a sua força sobre os bem intencionados, sobre todos aqueles que sinceramente procuravam a verdade.

Por isso os seus livros nada têm de sistemático, quase diríamos de harmonioso. Jackson nunca foi um fazedor de idéias. É muito fácil e distrai bastante os intelectuais burgueses a criação de sistemas. Não conheço melhor exemplo, no domínio da mediania intelectual, que a doutrina espírita, onde fantasias mentais são tão abundantes, quanto indemonstráveis e satisfazem comodamente a necessidade de uma explicação final do universo. Haverá coisa mais incômoda que o diabo e o fogo eterno?

Jackson não expõe idéias em seus livros, mas põem problemas. E quem ainda não os tiver sentido dentro de si, inútil buscá-los nas páginas de suas obras. O homem livresco é exatamente aquele que “conhece” os problemas e as soluções propostas, por haver encontrado expostos em algum trabalho, mas não os sentiu realmente em si. E por isso não os compreende. E Jackson ou é compreendido, ou abandonado. Não pode provocar admirações no puro intelectual, nem alegria entre os amáveis.

Essas razões que dele me distanciam, no primeiro encontro. Nessa época eu não percebera ainda o meu “burguês”. Estávamos talvez ainda um pouco identificados demais... e, com certeza, dele ainda não os despojamos suficientemente. Do ponto de vista intelectual, o que me seduzia era exatamente as idéias, e não as situações. Para mim as ideais governam o mundo e a consciência modelava a existência.

Por isso, dizia eu a princípio, sentir-me fraco demais para escrever sobre Jackson, quando a isso me aludiram.

Ao ler posteriormente o número de “A Ordem” em homenagem ao inquieto analista de de Maistre, bem como as reveladoras cartas que dirigiu a Alceu Amoroso Lima, verifiquei quão justo fora o meu temor. Não era eu que precisava falar dos outros de Jackson, mas precisamente quem precisava ouvir falar de Jackson. E de fato, os artigos de Amoroso Lima, Barreto Filho, Hamilton Nogueira nos apresentaram o verdadeiro Jackson, o apaixonado da “vida”, o diretor de consciências.

Jackson, pelo contrário, só se satisfazia com a solução total. Coisa alguma lhe interessava se não se satisfazia com a solução total. Coisa alguma lhe interessava se não fosse apreciada “sub ratione aeternitatis”. Os objetos mais queridos pela beleza, pela graça ou pela riqueza, ele os abandonava sem saudade, nem tinha inveja de que os possuía. A si próprio, a que tanto amava, a ponto de ser tentado a constituir-se em chave do universo, desprezava enquanto ser contingente e votado ao desaparecimento. Só a alma, a salvação da alma o orientava nas suas decisões.

E nesse sentido é que Jackson era homem de ação. Não ainda “de ação” na algaravia ianque de “ativista”. Mas de ação real, isto é, incapaz de se mover sem se para deixar a marca indelével de sua passagem.

Nem se pode dizer que Jackson só pensava para agir. Isso diria um comteano, ou qualquer outro calinada. Para Jackson, o pensamento já era a própria ação, pensar era agir, era se identificar com uma situação e compreendê-la e, portanto, resolvê-la.

Essas pequeninas reflexões e ainda outras me vinham à mente ao perpassar a extraordinária correspondência do autor do “Aevum”. E eu pude então entender porque não me aproximara de Jackson, quando estudante de direito. A minha inveterada tendência para tudo resolver na tela das idéias puras, o meu semi-burguesismo mesmo me afastaram desse perturbador, desse inquieto contagioso, que não deixava incólume alma alguma que resvalasse pelo campo de suas infatigáveis análises.

Só a lição da vida, só as situações que ela nos cria, só a necessidade de vencê-las, isto é, de assimilá-las a nós sem nos deturpar, nos pode por em face com certas questões fundamentais, que encontramos em Jackson de Figueiredo.

Doze anos passados, a sua presença é uma realidade. Jackson de foi talvez a mais forte personalidade da história do Brasil independente. Ele é uma revelação de Deus e da Terra e um sinal de que no Brasil nada se fará em contrário à corrente cristã e ocidental, que ele veio encarnar.

*ELIA, Silvio. Jackson, humanista integral. A Ordem, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, 167-171, fev. 1941.


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Jackson  

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Jackson

Hamilton Nogueira*

Jackson de Figueiredo.  A Ordem,
Rio de Janeiro, v. 40, n. 5,
p. 323-324. nov. 1948.
Vinte anos passados não arrefeceram a lembrança viva do amigo, sempre presente no nosso espírito, neste ou naquele momento da nossa vida. Parece-nos, ao contemplar o seu retrato, que o seu olhar curioso, que tinha a expressão de ver mínimos detalhes, da nossa atividade, no plano do espírito, da nossa fidelidade à grande obra de renascimento religioso, detestavelmente, um dos grandes paladinos, durante dez anos de intenso trabalho intelectual.

Ele e Wagner Dutra foram duas criaturas predestinadas a fazer-nos pensar, a todo instante, no sentido eterno da vida. Jackson, despertando em cada um de nós o gosto pelos debates das idéias, mostrando-nos a grandeza do Catolicismo e tirando-nos do nosso indiferentismo; Wagner, pela ação de presença, pela sua bondade, pelo seu dom de adivinhar o sofrimento e as angústias do amigo.

Jackson morreu aos 37 anos. Somos hoje muito mais velhos, e no entanto, ele é que continua a ser nosso mestre, tão grande foi sua experiência, tão agudo o seu conhecimento dos homens, tão penetrante o seu julgamento.

Relendo, agora, a sua admirável correspondência, sentimos a profundeza do seu espírito ao pressentir o papel que iriam representar no mundo contemporâneo as figuras de Maritain e de Berdiaeff, cuja influência, há vinte anos, limitava-se a um círculo ainda limitado.

Era um profundo conhecedor da realidade brasileira, quer sob aspecto político, quer sob o aspecto religioso, representando a sua atuação de jornalista o bom senso de uma das inteligências mais lúcidas que passaram pelo cenário intelectual do Brasil.

Este ano, como nos anos anteriores, estão presentes todos os seus amigos, para manifestar toda a sua gratidão àquele que foi um dos guias da formação espiritual de cada um. 


*NOGUEIRA, Hamilton. Jackson.  A Ordem, Rio de Janeiro, v. 40, n. 5, p. 323-324. nov. 1948.

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Carta de Jackson a Alceu Amoroso  

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Cartas de ontem e de hoje

Aproveitamos com muito prazer a colaboração do Sr. Abib Netto, de Mogi das Cruzes, que nos envia uma carta de Jackson de Figueiredo a Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Embora as cartas de ambos já hajam sido publicadas pela Editora Agir sob o título “Correspondências”, muitos leitores talvez não as conheçam, - e a de hoje é uma interessante amostra, marcando um momento decisivo na vida do fundador da nossa Revista.

Rio, 22/23-2-28

Querido Alceu!
           
Já aqui estou , de volta do retiro em Friburgo. Mais contente com Deus, mais descontente comigo, mais tranqüilo com a consciência, mais desconfiado do coração.
           
Enfim, está é a verdade: não noção vital do que é a Igreja (e até do que vale a sua força meramente discursiva) sem mergulhar-se num retiro. E depois, como não se lucra na perda de ilusões sobre nós mesmos! Porque não é brinquedo debruçar-se a gente durante três dias e três noites sobre a própria miséria interior.

Eu, pelo menos, ganhei isto: a certeza, desta vez, de que só do sobrenatural posso esperar solução do meu caso psicológico – pobre estragado por tantas perversidades do mundo. De mim mesmo é impossível. O mais que eu próprio poderei fazer em bem de mim mesmo é manter-me, como até agora, em atitude agressiva contra tudo quanto, em mim, me pareça amável, delicado, anuançado, propriamente lírico.

            Entreguei o seu livro ao velho Madureira, figura de santo.
            Com o Franca conversei muito sobre você.
            Estamos, pois, de novo, face a face.
            Adeus, meu querido Alceu!
            Um abraço do seu velho,
            Jackson

CARTA de Jackson de Figueiredo a Alceu Amoroso Lima. A Ordem, Rio de janeiro, v. 32, n. 48, p. 243, jul./dez. 1952