O REALISTA  

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Ronaldo de Carvalho


         A personalidade de Jackson de Figueiredo é uma soma de valores tão concretos que resiste ainda, por falta do necessário recuo no tempo, às generalizações de uma análise perfeita. O que espanta, desde logo, no caráter desse homem superior, é a extrema simplicidade a que chegou, depois dos mais vários e inesperados caldeamentos, a sua substância moral. Essa maravilhosa simplicidade era sua força, força catalítica, feita de imponderáveis, que lhe permitiu decompor a realidade nas suas séries mais complexas.
         Todo o drama da sua vida se inscreve neste axioma: Jackson de Figueiredo foi um homem a procura da verdade. Seu pendor para as extremas, ora para o negativismo integral, durante a formação da sua inteligência, ora para o dogmatismo absoluto, no ponto de equilíbrio da sua madureza, são um índice claro daquele acerto. Era-lhe fundamental o horror a qualquer relativismo. Por isso, nenhum dentre os seus contemporâneos revelou, como ele, então apurado grau, as qualidades de chefe de partido, a energia do comando, a faculdade instantânea de situar os obstáculos para os vencer melhor.
         Possuindo um espírito especulativo capaz de conceber: uma obra de condensação como “Pascal e a Inquietação Moderna”, Jackson de Figueiredo, pela disciplina da sua fé católica, foi um realista em todas as construções do seu talento. Desejou sempre, e com ânimo seguro, num período triste de infinita plasticidade moral e mental, os postos difíceis e atrevidos: foi amigo exemplar, entre distraídos, dogmático, entre pragmatistas, brasileiro, entre metecas.
         Pela riqueza da sua herança Jackson de Figueiredo estará sempre entre os mais vivos de todos nós.

CARVALHO, Ronaldo de. Jackson de Figueiredo, o realista. In : FIGUEIREDO, Jackson de.  In Memoriam.  Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929.  p. 140-141.

Jackson de Figueiredo  

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Jackson de Figueiredo

Dom Sebastião Leme
Arcebispo Coadjuntor do Rio de Janeiro

         O Brasil católico – e poderia  dizer, simplesmente,  “O Brasil” – não tem o direito de esquecer os exemplos e os esforços de Jackson de Figueiredo.
         Gravar-lhe a fisionomia de homem e de apóstolo em número especial de A Ordem, mim se me afigura obra de fé e patriotismo. E eu, como bispo e como amigo, aqui estou a aplaudi-lo e abençoá-lo.
         Querem ainda a contribuição do meu pobre pince para o retrato do fundador do Centro Dom Vital e da A Ordem? Ai vai, pois, em traços sem colorido, o que dele pensa, não o amigo, que tão de perto o praticou, mas a Autoridade Eclesiástica que o pôde conhecer nos recessos mais íntimos do coração.
         Jackson de Figueiredo era católico sincero, convicto, fervoroso e dedicado até ao sacrifício da vida, si preciso fosse.
         Entre a Igreja e qualquer outra coisa, fosse o que fosse ele preferia sempre a Igreja. Erraria grosseiramente que o julgasse católico, por conveniência, oportunismo, interesse ou vaidades do momento. Igualmente erraria quem visse a razão última do seu catolicismo ardoroso na preocupação pela ordem legal.
         Não há dúvida que nos últimos anos de existência viveu Jackson obcecado por essa idéia; mas, a essência das suas convicções religiosas não vinha dali. Era católico, não só a Igreja seja a melhor escola de ordem, mas porque a Igreja é, pura e simplesmente, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, fora da qual não compreendia a vida, na finalidade magnífica de seus destinos sobrenaturais e humanos. E é desse ponto de vista, como católico, sincero praticante e militante, que o nome de Jackson de Figueiredo ficará nas letras e na história brasileiras.
         Em que pese a ação do jornalista brilhante e combativo, tenho para mim que foi, como servidor da Igreja, que Jackson de Figueiredo conseguiu fazer escola.
         Do polemista inteligente e fogoso raros serão os adeptos no campo da intelectualidade.
         Do causeur fertilíssimo, estereotipador vivaz e um tanto áspero dos homens e das coisas, só comentários de intimidade cultuarão a lembrança.
         Nem mesmo de sua alma feita de bondade e doçura, de sensibilidade infantil e meiguice angélica para o sofrimento alheio, serão muitos os que possam render testemunho. Dom servidor da Igreja e do soldado de Jesus Cristo, desse, sim, é que não morrerá o exemplo.
         Fez discípulos e deixa imitadores. Para não citar veteranos do Centro Dom Vital, bastaria o nome de Tristão de Athayde. É valor que só por si imortaliza a influência espiritual de Jackson de Figueiredo.
         Ora, toda essa plêiade escolhida de moços, que cerram fileiras em torno do nome de Jackson de Figueiredo, alimenta na alma a convicção solene de que o servidor da Igreja e soldado de Jesus Cristo deve e será continuado. Que maior glória para o nome de Jackson de Figueiredo?
         Dele, cada um poderá repetir o que de Luiz Veuillot escreveu o Conde de Mun:
         “...La conversation Du maître, abondante, semée d’anecdotes ET de traits, me parut toute différente de ce que j’attendais. Dans sés récits, dans sés jugements, ce fut la bonté.
         L’impression que je note ici surprendra sans doute ceux pour qui Louis Veuillot est reste Le type Du journaliste, impitoyable à sés adversaires. II I’était, quand Il le fallait, la plume â la main. Mais dans sés propôs, la parole, souvent plaisante, n’était pás mordante et si, devant lui, quelqu’um disait sur I’um dês adversaires une dure parole, Il em adoucissait I’âpreté par um mot d’éloge.
         Quand, j’allai Le visiter dans son cabinet, jê vis um autre homme. J’entendis, non plus Le causeur inimitable et le brilhant conteur, mais le seriteur de I’Eglise. II ne me parla ni de la politique, ni  dês hommes, ni dês faits Du jour; laissant les choses contingentes, il fit pour moi seul, sans apprêt, simplesment, avec quelle éloquence cependant et  quelle hauteur de vues! Une admirable leçon sur I’Eglise romaine, et sur le role que as mission divine lui a trace dans le monde, à traves lês siècles. Me pressant, si jê le voulais la servir à mon tour, d’apprendre à la connaître, Il me dit: “Ayes toujours prés de vous, sur votre table, um volume de I’histoire de I’Eglise!” Cette parole m’est restée presente toute ma vie”. (1)
         Assim, ficarão para sempre, entre amigos e companheiros de Jackson de Figueiredo, as suas palavras e exemplos de amor e dedicação á causa da Igreja, sem que a qual, escreveu ele, não há pátria, porque não  há espírito, e sem espírito não há criações do espírito.
         “Sua bênção para mim e para os soldados do Centro” – tal foi sempre a fórmula inicial das cartas que me dirigia. Com a morte do chefe valoroso, os soldados não desertaram o campo. Eles estão de pé, e a bandeira despregada aos ventos.
         Que Deus os abençoe por eles e pelos novos que vierem!
         É preciso que os intelectuais brasileiros conheçam a verdade e gozem a ventura do amor e serviço de Jesus Cristo!

         Rio, 24-II-1929.

(1) Ma formation, pag. 52



LEME, Sebastião. Jackson de Figueiredo. In : FIGUEIREDO, Jackson de. In Memoriam. Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929. p. 1-3.


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Confira o arquivo digitalizado aqui.
*Na transcrição desta carta não mantivemos o português original. Modificamos a ortografia para o português atual. 

Indicação  

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Indicação

Sergio Buarque de Holanda*

Não é difícil situar e destacar a personalidade de Jackson de Figueiredo entre as mais relevantes de sua geração. Sobravam-lhe traços de espírito bastante acusados para que parecesse fácil essa empresa. Exemplo disso é que se criou sem custo uma opinião quase unânime a seu respeito. Em como um esforço tenaz e consciente para a afirmação da ordem e para a exaltação do bom senso. Aceitou solenemente as convenções e os padrões tradicionais. Acreditou com fervor que a vida merece ser vivida. Nunca o atormentou o pensamento de que nossa existência neste mundo possa ser um sonho ou uma comédia.

São esses aspectos os mais evidentes, posto que os mais superficiais, de sua personalidade. Para se fazer justiça a Jackson de Figueiredo é indispensável, porém, uma revisão dessa imagem demasiado simplista e, certamente, pouco amável. Ele pertenceu a essa casta de homens cheios de heroísmo nobre, porém, uma revisão dessa imagem demasiado simplista e, certamente, pouco amável. Ele pertenceu  a essa casta de homens cheio de um heroísmo nobre, designados naturalmente para estimular, para orientar, para comandar e para combater. Essa predestinação dissimulou sabiamente – eu ia dizer lamentavelmente – qualquer coisa de mais sombrio e de mais profundo, que não convinha aparecer a muitos homens. Ela incluía e até impunha uma extrema simplificação das questões mais importantes, uma exclusão premeditada do discutível e do problemático. Não é sem razão que o interessaram Pascal e a inquietação moderna e esses humilhados e luminosos que evocou em um livro onde se encontram as primeiras influências e as primeiras impressões de seu espírito. Ele nos insinua, pelo menos, que sua atitude não deve ter sido a de um anestesiado contra as vacilações espirituais, contra o mal e contra a desordem.

Ai está, com certeza, o que lhe assegurou a possibilidade de por em constante tensão os seus esforços para vencer a atração da anarquia e superar o conhecimento dissolvente.


*HOLANDA, Sergio Buarque de. Indicação. In : FIGUEIREDO, Jackson de. In Memoriam. Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929. p. 148-149.

Sou um...  

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"[Sou] um católico, na mais rigorosa significação do nobilíssimo termo, um homem que, conscientemente, abdicou do seu individualismo intelectual nas mãos amantíssimas da Igreja Católica."

Trecho selecionado da obra de FIGUEIREDO, Jackson de. Pascal e a Inquietação Moderna. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1921. 9 p.

Católico e Política  

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"O católico se distingue no mundo, justamente porque, do ponto de vista religioso, reconhece autoridade, no sentido mais rigoroso da palavra. Os chefes da Igreja são os seus Bispos, e não nós pensadores, escritores, jornalistas, políticos, por mais autoridade que nos dê a firmeza da nossa crença ou a ilustração da nossa fé."

Jackson de Figueiredo. Capítulo Catholicismo e Politica, disponível no livro A REACÇÃO DO BOM SENSO. 14/09/1921, p.45.