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Sergio Buarque de Holanda*

Não é difícil situar e destacar a personalidade de Jackson de Figueiredo entre as mais relevantes de sua geração. Sobravam-lhe traços de espírito bastante acusados para que parecesse fácil essa empresa. Exemplo disso é que se criou sem custo uma opinião quase unânime a seu respeito. Em como um esforço tenaz e consciente para a afirmação da ordem e para a exaltação do bom senso. Aceitou solenemente as convenções e os padrões tradicionais. Acreditou com fervor que a vida merece ser vivida. Nunca o atormentou o pensamento de que nossa existência neste mundo possa ser um sonho ou uma comédia.

São esses aspectos os mais evidentes, posto que os mais superficiais, de sua personalidade. Para se fazer justiça a Jackson de Figueiredo é indispensável, porém, uma revisão dessa imagem demasiado simplista e, certamente, pouco amável. Ele pertenceu a essa casta de homens cheios de heroísmo nobre, porém, uma revisão dessa imagem demasiado simplista e, certamente, pouco amável. Ele pertenceu  a essa casta de homens cheio de um heroísmo nobre, designados naturalmente para estimular, para orientar, para comandar e para combater. Essa predestinação dissimulou sabiamente – eu ia dizer lamentavelmente – qualquer coisa de mais sombrio e de mais profundo, que não convinha aparecer a muitos homens. Ela incluía e até impunha uma extrema simplificação das questões mais importantes, uma exclusão premeditada do discutível e do problemático. Não é sem razão que o interessaram Pascal e a inquietação moderna e esses humilhados e luminosos que evocou em um livro onde se encontram as primeiras influências e as primeiras impressões de seu espírito. Ele nos insinua, pelo menos, que sua atitude não deve ter sido a de um anestesiado contra as vacilações espirituais, contra o mal e contra a desordem.

Ai está, com certeza, o que lhe assegurou a possibilidade de por em constante tensão os seus esforços para vencer a atração da anarquia e superar o conhecimento dissolvente.


*HOLANDA, Sergio Buarque de. Indicação. In : FIGUEIREDO, Jackson de. In Memoriam. Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929. p. 148-149.

This entry was posted on segunda-feira, 10 de outubro de 2011 at 22:19 and is filed under , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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