Jackson de Figueiredo  

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Jackson de Figueiredo

Dom Sebastião Leme
Arcebispo Coadjuntor do Rio de Janeiro

         O Brasil católico – e poderia  dizer, simplesmente,  “O Brasil” – não tem o direito de esquecer os exemplos e os esforços de Jackson de Figueiredo.
         Gravar-lhe a fisionomia de homem e de apóstolo em número especial de A Ordem, mim se me afigura obra de fé e patriotismo. E eu, como bispo e como amigo, aqui estou a aplaudi-lo e abençoá-lo.
         Querem ainda a contribuição do meu pobre pince para o retrato do fundador do Centro Dom Vital e da A Ordem? Ai vai, pois, em traços sem colorido, o que dele pensa, não o amigo, que tão de perto o praticou, mas a Autoridade Eclesiástica que o pôde conhecer nos recessos mais íntimos do coração.
         Jackson de Figueiredo era católico sincero, convicto, fervoroso e dedicado até ao sacrifício da vida, si preciso fosse.
         Entre a Igreja e qualquer outra coisa, fosse o que fosse ele preferia sempre a Igreja. Erraria grosseiramente que o julgasse católico, por conveniência, oportunismo, interesse ou vaidades do momento. Igualmente erraria quem visse a razão última do seu catolicismo ardoroso na preocupação pela ordem legal.
         Não há dúvida que nos últimos anos de existência viveu Jackson obcecado por essa idéia; mas, a essência das suas convicções religiosas não vinha dali. Era católico, não só a Igreja seja a melhor escola de ordem, mas porque a Igreja é, pura e simplesmente, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, fora da qual não compreendia a vida, na finalidade magnífica de seus destinos sobrenaturais e humanos. E é desse ponto de vista, como católico, sincero praticante e militante, que o nome de Jackson de Figueiredo ficará nas letras e na história brasileiras.
         Em que pese a ação do jornalista brilhante e combativo, tenho para mim que foi, como servidor da Igreja, que Jackson de Figueiredo conseguiu fazer escola.
         Do polemista inteligente e fogoso raros serão os adeptos no campo da intelectualidade.
         Do causeur fertilíssimo, estereotipador vivaz e um tanto áspero dos homens e das coisas, só comentários de intimidade cultuarão a lembrança.
         Nem mesmo de sua alma feita de bondade e doçura, de sensibilidade infantil e meiguice angélica para o sofrimento alheio, serão muitos os que possam render testemunho. Dom servidor da Igreja e do soldado de Jesus Cristo, desse, sim, é que não morrerá o exemplo.
         Fez discípulos e deixa imitadores. Para não citar veteranos do Centro Dom Vital, bastaria o nome de Tristão de Athayde. É valor que só por si imortaliza a influência espiritual de Jackson de Figueiredo.
         Ora, toda essa plêiade escolhida de moços, que cerram fileiras em torno do nome de Jackson de Figueiredo, alimenta na alma a convicção solene de que o servidor da Igreja e soldado de Jesus Cristo deve e será continuado. Que maior glória para o nome de Jackson de Figueiredo?
         Dele, cada um poderá repetir o que de Luiz Veuillot escreveu o Conde de Mun:
         “...La conversation Du maître, abondante, semée d’anecdotes ET de traits, me parut toute différente de ce que j’attendais. Dans sés récits, dans sés jugements, ce fut la bonté.
         L’impression que je note ici surprendra sans doute ceux pour qui Louis Veuillot est reste Le type Du journaliste, impitoyable à sés adversaires. II I’était, quand Il le fallait, la plume â la main. Mais dans sés propôs, la parole, souvent plaisante, n’était pás mordante et si, devant lui, quelqu’um disait sur I’um dês adversaires une dure parole, Il em adoucissait I’âpreté par um mot d’éloge.
         Quand, j’allai Le visiter dans son cabinet, jê vis um autre homme. J’entendis, non plus Le causeur inimitable et le brilhant conteur, mais le seriteur de I’Eglise. II ne me parla ni de la politique, ni  dês hommes, ni dês faits Du jour; laissant les choses contingentes, il fit pour moi seul, sans apprêt, simplesment, avec quelle éloquence cependant et  quelle hauteur de vues! Une admirable leçon sur I’Eglise romaine, et sur le role que as mission divine lui a trace dans le monde, à traves lês siècles. Me pressant, si jê le voulais la servir à mon tour, d’apprendre à la connaître, Il me dit: “Ayes toujours prés de vous, sur votre table, um volume de I’histoire de I’Eglise!” Cette parole m’est restée presente toute ma vie”. (1)
         Assim, ficarão para sempre, entre amigos e companheiros de Jackson de Figueiredo, as suas palavras e exemplos de amor e dedicação á causa da Igreja, sem que a qual, escreveu ele, não há pátria, porque não  há espírito, e sem espírito não há criações do espírito.
         “Sua bênção para mim e para os soldados do Centro” – tal foi sempre a fórmula inicial das cartas que me dirigia. Com a morte do chefe valoroso, os soldados não desertaram o campo. Eles estão de pé, e a bandeira despregada aos ventos.
         Que Deus os abençoe por eles e pelos novos que vierem!
         É preciso que os intelectuais brasileiros conheçam a verdade e gozem a ventura do amor e serviço de Jesus Cristo!

         Rio, 24-II-1929.

(1) Ma formation, pag. 52



LEME, Sebastião. Jackson de Figueiredo. In : FIGUEIREDO, Jackson de. In Memoriam. Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929. p. 1-3.


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Confira o arquivo digitalizado aqui.
*Na transcrição desta carta não mantivemos o português original. Modificamos a ortografia para o português atual. 

This entry was posted on quarta-feira, 12 de outubro de 2011 at 10:13 and is filed under , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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