O REALISTA  

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Ronaldo de Carvalho


         A personalidade de Jackson de Figueiredo é uma soma de valores tão concretos que resiste ainda, por falta do necessário recuo no tempo, às generalizações de uma análise perfeita. O que espanta, desde logo, no caráter desse homem superior, é a extrema simplicidade a que chegou, depois dos mais vários e inesperados caldeamentos, a sua substância moral. Essa maravilhosa simplicidade era sua força, força catalítica, feita de imponderáveis, que lhe permitiu decompor a realidade nas suas séries mais complexas.
         Todo o drama da sua vida se inscreve neste axioma: Jackson de Figueiredo foi um homem a procura da verdade. Seu pendor para as extremas, ora para o negativismo integral, durante a formação da sua inteligência, ora para o dogmatismo absoluto, no ponto de equilíbrio da sua madureza, são um índice claro daquele acerto. Era-lhe fundamental o horror a qualquer relativismo. Por isso, nenhum dentre os seus contemporâneos revelou, como ele, então apurado grau, as qualidades de chefe de partido, a energia do comando, a faculdade instantânea de situar os obstáculos para os vencer melhor.
         Possuindo um espírito especulativo capaz de conceber: uma obra de condensação como “Pascal e a Inquietação Moderna”, Jackson de Figueiredo, pela disciplina da sua fé católica, foi um realista em todas as construções do seu talento. Desejou sempre, e com ânimo seguro, num período triste de infinita plasticidade moral e mental, os postos difíceis e atrevidos: foi amigo exemplar, entre distraídos, dogmático, entre pragmatistas, brasileiro, entre metecas.
         Pela riqueza da sua herança Jackson de Figueiredo estará sempre entre os mais vivos de todos nós.

CARVALHO, Ronaldo de. Jackson de Figueiredo, o realista. In : FIGUEIREDO, Jackson de.  In Memoriam.  Rio de Janeiro : Centro Dom Vital, 1929.  p. 140-141.

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