Biografia  

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 Autoria de  Camila Favaro e Diego Guilherme da Silva, membros do Centro Schuman.
Retirado do site: http://www.centroschuman.org/

Jackson de Figueiredo Martins é destes sujeitos que deixam sua marca na história. Convém, aqui, ver como o catolicismo no Brasil foi influente e impactante no período em que esteve vivo e à frente do seu legado: o Centro Dom Vital.

Nasceu em Aracaju, Sergipe no dia 09 de outubro de 1891. Iniciou seus primeiro estudos no Ateneu Sergipense e no Ginásio Alagoano. Com desejo de estudar Direito, transfere-se em 1913 para a Bahia, onde ingressa na Faculdade de Direito da Bahia. Sua graduação foi um período de aridez espiritual. Logo após concluir o curso, segue para o Rio de Janeiro a fim de fazer sua carreira profissional. Era dotado de uma inteligência impressionante, foi jornalista, ensaísta, filósofo e polí­tico. Foi nesta cidade, reduto do catolicismo intelectual da época, que publicou seu primeiro livro, “Algumas Reflexões Sobre a Filosofia Farias Brito, em 1916. A esta seguiram-se várias obras, dentre as quais: A Questão So­cial na Filosofia de Farias Brito (1919);  Humilhados e Luminosos (1921); Do Nacionalismo na Hora Presente (1921); Afirmações (1921); A Reação do Senso (1922); Pascal e a Inquietação Moderna (1922); Auta de Sousa  (1924); Literatura Reacionária (1924); A Coluna de Fogo (1925);  Durval de Morais e os Poe­tas de Nossa Senhora (1925).

Ao ter contato com a carta pastoral de Dom Sebastião Leme, em que o prelado critica duramente os católicos por sua inércia -  “Que maioria católica é essa, tão insensível, quando leis, governos, literatura, escolas, imprensa, indústria, comércio e todas as demais funções da vida nacional se revelam contrárias ou alheias aos princípios e práticas do catolicismo? É evidente, pois, que, apesar de sermos a maioria absoluta do Brasil, como nação, não temos e não vivemos vida católica. Quer dizer: somos uma maioria que não cumpre seus deveres sociais. Obliterados em nossa consciência os deveres religiosos e sociais, chegamos ao abuso máximo de formarmos uma grande força nacional, mas uma força que não atua e não influi, uma força inerte. Somos, pois, uma maioria ineficiente.” - Jackson procurou-o no palácio São Joaquim, tendo recebido o Sacramento da Confissão dias depois.

Com uma personalidade de liderança e hábil facilidade para reunir amizades para uma causa, fundou a revista “A Ordem” em 1921, e, logo em seguida, em 1922, o Centro Dom Vital, centro irradiador do pensamento católico no Brasil que marcou profundamente e fez sentir a força dos católicos nas décadas seguintes.

Este centro congregou diversas personalidades do catolicismo e foi fundamental para a conversão de vários intelectuais, políticos, entre outros. Participaram dele pessoas como Alceu Amoroso Lima, que foi, depois da morte de Jackson, o presidente do Centro; Gustavo Corção; Felício dos Santos, Perilo Gomes; Pedro Calmon, só para citar alguns.

Jakson de Figueiredo influenciou e impactou a vida de todos os que o conheceram. Alceu Amoroso Lima escreveu a seu respeito: “Jackson foi um terremoto. Um terremoto espiritual nesta velha e dura terra da indiferença religiosa nacional. O que exercia sobre Jackson uma atração patética no velho mundo era a seriedade, a gravidade, a tragicidade de sua indagação metafísica religiosa.”

Dom Sebastião Leme escreveu que “como bispo e amigo, aqui estou a aplaudi-lo e abençoá-lo.” E afirmava que “O Brasil católico – e poderia dizer, simplesmente, ‘o Brasil’ – não tem o direito de esquecer os exemplos e os esforços de Jackson de Figueiredo.” Sobre sua fé escreveu que “era católico sincero, convicto, fervoroso e dedicado até o sacrifício da vida, se preciso fosse.”

O Padre Leonel Franca escreveu a respeito dele: “Jackson não teve a felicidade de passar os primeiros anos à sombra da Igreja. O seu temperamento, ardente e indomável, sentira sempre os percalços desta lacuna da sua educação. Mas a Providência divina, nos seus eleitos, transforma em fontes de bem deficiências da providência humana. A entrada na Igreja foi para ele uma luta, uma conquista, uma vitória pacificadora. Inquieto dos seus subjetivismos filosóficos, insatisfeito dos seus individualismos sociais, o encontro com o catolicismo foi para a sua grande inteligência uma revelação, o descobrimento de uma novidade. Era a visão inesperada da verdade, da ordem, da paz, da valorização completa do homem. A sua alma sincera não resistiu à humanidade: ‘Eu sou a Verdade e a Vida’. A nobreza do seu caráter, repugnavam as generosidades incompletas. Convertido, colocou ao serviço da fé todas as riquezas de uma natureza excepcionalmente bem dotada.”

Jackson faleceu aos 37 anos, no dia 04 de novembro de 1928, ao pescar com seu filho e um amigo na capital carioca. Caiu acidentalmente no mar e levado pelas águas lutou bravamente por minutos contra as ondas. Seu olhar mirava seu filho, que angustiado chorava por ele impossibilitado de fazer algo. A água, que  nos insere no grêmio da Igreja através do Batismo, foi a que o levou à eternidade. Proféticas foram suas palavras: “É raro que a morte não confirme, de modo ostensivo, o valor de cada vida.” Em um poema sob título Águas Jackson escreveu: “Eu tenho a paixão das águas; gosto de olhá-las, compara-lás, vê-las através de minha imaginação que elas exaltam, as águas refletidoras de tudo, tão boas e tão tristes.”

Por ocasião de seu falecimento, disse o Pe. Leonel Franca: “Com o desaparecimento de Jackson de Figueiredo acaba de extinguir-se no firmamento da Igreja brasileira, uma das estrelas de mais puro fulgir.”

Sobre ele, há vários artigos na revista A Ordem e no livro In Memoriam, publicados pelo Centro Dom Vital, o último dedicado ao resgate de sua memória. Também deve-se mencionar a riquíssima biografia escrita por sua filha Cléa Alves de Figueiredo Fernandes, intitulada “Jackson de Figueiredo: uma trajetória apaixonada”.