CATHOLICISMO E REVOLUÇÃO - Jackson de Figueiredo  

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CATHOLICISMO E REVOLUÇÃO

*Disponível no livro A Reacção do Bom Senso, coletânea de ARTIGOS PUBLICADOS N'«0 JORNAL», DO RIO DE JANEIRO (1921-1922) de Jackson de Figueiredo

**Não revisamos o português. Preferimos manter conforme o original. 


PODERIA dar-me por satisfeito com a citação de autoridade tão veneravel como é a de D. Antônio de Macedo Costa, confessor da Fé Catholica, ao lado do santo Bispo D. Vital, quando foi da infame perseguição contra a Egreja, prenunciadora da queda da Monarchia no Brazil. Mas tanto me horrorisa a attitude de perfeitos revolucionarios com que individuos, que se dizem catholicos, se mantém no dominio da nossa vida politica, que, por não duvidar, em absoluto, da sua bôa fé, só me resta acreditar na completa ignorancia de todos elles, em relação a este, o máximo problema da vida politica e social contemporanea.

É, por isto que, podendo, aliás, encher paginas e paginas de palavras verdadeiramente autorizadas, não posso deixar de trazer para aqui mais alguns testemunhos de alto valor contra semelhante attitude. Em confronto com opiniões quase sempre bebidas em fontes positivistas, vejamos, nós, catholicos, bem entendido, o que, da Revolução, em todos os seus aspectos, diz a verdadeira Egreja.

Principiemos por Leão XIII:

"Se portanto — dizia o grande Papa, a 28 de Dezembro de 1876 — se portanto acontecer alguma vez que o poder publico seja exercido pelos príncipes temerariamente e ultrapassando os limites do justo, a doutrina da Egreja catholica não permitte que os subditos se revoltem contra elles, com receio de que a tranquillidade da ordem fique ainda mais perturbada e por isso a sociedade soffra um prejuízo muito maior. E quando as cousas chegarem a ponto de já não brilhar esperança alguma de salvação, a Egreja ensina que o remédio deve ser rogado e apressado pelos merecimentos da paciência christã e com fervorosas orações a Deus. Só ante a manifesta violação da lei Divina ou natural cabe ao catholico: "obedecer a Deus antes que aos homens", e é o caso da resistencia passiva.
(Ency. Quod apostolici — 1.° vol. da trad. port., pag. 21).

E Deumeran, a esta mesma passagem da Ency. Quod apostolici, acerescenta: "Cette doctrine qu'enseignaient, S. Thomaz, Suarez et Bellarmin, ne permet donc pas d'affirmer in general "le droit de résistance au tyran", etc. (L'E'glise, 263).

P. Ch. Makée, na sua clara exposi-ção sobre o Direito Social da Egreja e suas applicações, assim se exprime: "Si 1'Autori-té se trompe manifestement, ou si elle impo-se arbitrairement ce qui n'est ni nécessaire ni utile à 1'obtention de Ia fin de Ia Societé, ses prescriptions, par elles mêmes, n'obligent pas. Car, dans 1'hypothèse, la base du Droit fait défaut, puisque le fondement du pouvoir que possède la Societé d'exiger quelque chose de ses membres repose sur la haison nécessaire entre la fin de Ia Societé et la chose exigée. Elles obligent toutefois accidentellement lorsque ces deux conditions se trouvent á la fois réunies: que la chose prescrite, bien qu'inutile, soit licite; et que son omission doive occasioner le scandale, ou jeter le trouble dans la Societé".

(Du droit social de l'E'glise et ses applications, 4415).

Sempre a resistencia passiva será o ultimo reducto da consciencia de um verdadeiro catholico, e mesmo aos grandes apologistas modernos não escapou a necessidade de darem resposta de feição mais popular ás duvidas a esse respeito. Um delles, e dos maiores, assim resume a questão: "Une loi n'est droit qu'autant qu'elle concorde avec la justice. Une loi injuste n'est pas une loi parce qu'elle ne represente aucun droit (Augus-tin, Lib. arbit., 1, 5, 11). Mais parce qu'il est presque impossible de jamais donner une loi dans laquelle ne soit pas exprimée une idée quelconque de droit, il ríest jamais permis d'opposer une résistence complete á une loi tyrannique. Il y a en elle au moins cecidu droit, que 1'obéissance est exigée, quand même le contenu de cette loi et Ia façon dont cette obeissance est exigée sont injustes. Cest Ia raison pour laquelle Ia loi de Dieu ne permet jamais um refus complet d'obéis-sance, jamais Vanarchie". Isto quer dizer que não se deve confundir nunca a "resistencia passiva" de um povo catholico, quando desrespeitado nos seus mais sagrados direitos, com os processos revolucionários de sangue e incendio á primeira supposta injustiça que se venha a soffrer dos governantes.

E é ainda com maior energia que traça a linha que para sempre separará o verdadeiro crente do campo satânico da Revolução. Eis as suas palavras:

" .. .Nous avons dit précédemment, qu'en faisant son apparition, la Revolution avait invoque son droit d'autant plus haut qu'elle éternels de la Providence divine. Dieu ría elle ne 1'avait pas par elle-même, encore moins par Dieu qui ne la reconnaissait pas; mais seulement par Pétat absolu qui la fit nécessairement. En d'autres termes, celuici ne doit pas se plaindre d'elle; mais elle, à son tour, n'a aucun droit de le metíre en pièces. Dans la main de celui qui régit le monde, elle est, tout aussi bien que Fétat absolu un instrumént pour 1'exécution des plans éternels de Ia Providence divine. Dieu na pas plus fait Ia Revolution que Venfer; c'est ce qu'il y a de terrible en elle. Uétat moderne est aussi une monstruosité; cepandant, á"après son origine, il est de droit divin. La Revolution est d'autant plus haissable qríelle n'a rien de Dieu en elle. Cest pourquoi Vétat conserve toujours son droit, quand même il en abuse; car Vinfidélilé des hommes nest pas imputable à Dieu. Mais Ia Révolution ríaura jamais de droit venant de Dieu qui ne Ia veut pas".

São estas palavras, como as citadas mais acima, de Alberto Maria Weiss (V. Apologie du christianisme, trad. franc. de 1'abbé Collin, VII, 178-59), e não se dirá que não conhece bem a Revolução e o que ella é em face da Egreja, quem, com a mais cerrada lógica e a mais forte documentação, provou que foi o proprio "Estado Moderno" quem lhe deu, a ella, apparencia de virtude. A Revolução não veio de baixo para cima e, ainda hoje, é de cima para baixo que ella se vae desenvolvendo. São os grandes que vão arrastando os pequeninos para o abysmo do mesmo cego orgulho contra Deus, e louca confiança na miseria que somos. O Catholi-co, grande ou pequeno, tem, por conseguinte, uma attitude "necessaria" no mundo moderno: a do reaccionario contra a Revolução, e não só contra as suas parciaes objectivações de odio sanguinario, mas também contra o que Malebranche chamaria as suas "falsas verdades", os máos princípios geradores de todos esses odios.

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