Aproveitamos com muito prazer a colaboração do Sr. Abib Netto, de Mogi das Cruzes, que nos envia uma carta de Jackson de Figueiredo a Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Embora as cartas de ambos já hajam sido publicadas pela Editora Agir sob o título “Correspondências”, muitos leitores talvez não as conheçam, - e a de hoje é uma interessante amostra, marcando um momento decisivo na vida do fundador da nossa Revista.
Rio, 22/23-2-28
Querido Alceu!
Já aqui estou , de volta do retiro em Friburgo. Mais contente com Deus, mais descontente comigo, mais tranqüilo com a consciência, mais desconfiado do coração.
Enfim, está é a verdade: não noção vital do que é a Igreja (e até do que vale a sua força meramente discursiva) sem mergulhar-se num retiro. E depois, como não se lucra na perda de ilusões sobre nós mesmos! Porque não é brinquedo debruçar-se a gente durante três dias e três noites sobre a própria miséria interior.
Eu, pelo menos, ganhei isto: a certeza, desta vez, de que só do sobrenatural posso esperar solução do meu caso psicológico – pobre estragado por tantas perversidades do mundo. De mim mesmo é impossível. O mais que eu próprio poderei fazer em bem de mim mesmo é manter-me, como até agora, em atitude agressiva contra tudo quanto, em mim, me pareça amável, delicado, anuançado, propriamente lírico.
Entreguei o seu livro ao velho Madureira, figura de santo.
Com o Franca conversei muito sobre você.
Estamos, pois, de novo, face a face.
Adeus, meu querido Alceu!
Um abraço do seu velho,
Jackson
CARTA de Jackson de Figueiredo a Alceu Amoroso Lima. A Ordem, Rio de janeiro, v. 32, n. 48, p. 243, jul./dez. 1952
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on quarta-feira, 8 de junho de 2011
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